Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos



                                       MENTE-SE A VERDADE
          
          Não basta apenas dizer; todos dizem, mas poucos se interessam pela verdade do que foi dito. Sei que esse desgaste advém do que vem sofrendo “o mundo dos valores”, rebaixado a um segundo plano pelo “mundo dos interesses”, obsessão pelas vantagens, centrada nas três vigas mestras: poder, sexo e riqueza; triunvirato dos interesses, sobretudo individuais, egoísticos e mesquinhos, mesmo quando impõem ofensivos desrespeitos ao bem de todos, o coletivo.
          Dizer é fácil, sobretudo quando se fala afinado pelo diapasão da conveniência interesseira. Exclua-se aqui o dito de valor opinativo sobre assuntos logicamente discutíveis que, carentes de maior evidência, necessitam ser complementados por outras opiniões. Também se exclua o valorativo essencialmente subjetivo, próprio do gosto de cada um que, sem exceção na lógica, não pode ser considerado nem falso nem verdadeiro. Refiro-me ao dizer da sentença cuja conformidade e adequação com a realidade são possíveis de serem averiguadas,  o dito com o objeto descrito.
          Contudo, isso ainda não esclarece totalmente a mentira, não nos revela o que seja um mentiroso. Por que, caro leitor? Porque mentir ou não mentir, ao que parece, é muito mais proveniente da sinceridade do que dessa conformidade da sentença com o seu real objeto.  Exemplificando: se você viu algum amigo entrar a um recinto de má reputação e deseja omitir este fato à sua companheira, mentindo, informa que o amigo não se encontra naquele lugar. Portanto, decidiu mentir para “proteger” o amigo. Mas, a companheira, ao verificar o recinto, realmente não encontrou seu companheiro porque ele havia saído pela porta dos fundos. Neste caso, você mentiu porque foi insincero, porém, dizendo a verdade mesmo mentindo. Como, ao contrário, você pode não mentir, informando o falso, ao afirmar que ele se encontra naquela casa, desconhecendo que ele saíra pelos fundos.            
          A mentira não exige conhecimento sobre o que se afirma, mas apenas crença; não provém da ignorância, mas da má-fé; de modo que mentir é pretender dizer o contrário do em que você acredita. Portanto, diante do Juiz, jurar dizer a verdade é prometer ser sincero. Essas distinções ajudam a ética em relação à verdade e, de modo especial, definir o mentiroso. O bom senso recomenda ser moderadamente sincero quanto à virtuosidade alheia, sobretudo se as qualidades a serem ditas são negativas. Nestes casos, bem nos admoesta Oscar Wilde: “Um pouco de sinceridade é um perigo; muita sinceridade é absolutamente fatal.”

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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 09/05/2010
Alterado em 05/07/2010


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