Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                               ENSNO MÉDIO, MÉDIO ENSINO
          
          Corre notícia de que o Ministério da Educação reformará o Ensino Médio, na estrutura do nosso sistema educacional, entre o Ensino Fundamental e o Superior. Grosso modo, é dito que cerca de doze disciplinas se fundirão em quatro áreas: “línguas, matemática, humanas e exatas/biológicas”. Tudo será feito em nome da não “fragmentação” do currículo escolar.
          Nenhuma novidade. A percepção de que o conhecimento é uno, uma coisa só, vem dos antigos filósofos: gregos, para os ocidentais; chineses e indianos, para os orientais. Hoje, compara-se a uma rede cujos fios se entrelaçam nos nós. Pois bem, cada nó seria um conhecimento, na vasta malha do saber humano.
         Conta-nos a história da educação que, à medida que crescia o conjunto do conhecimento, dividia-se o conteúdo em áreas, “matérias”, posteriormente, em disciplinas, em que se pretendesse aprofundar o melhor domínio do extenso acervo, tal qual a analogia do educador Professor Luizito (Luiz Dias Rodrigues) : “Como o homem, para assimilar o alimento, fragmenta-o, quebra-o , o que, depois, se reintegra na digestão. Assim, do mesmo modo, para se compreender algum extenso objeto, o homem também fragmenta o seu todo. Ninguém sabe sobre a parte, desconhecendo o todo ao qual pertence a parte. Ou, acontece a ironia, nos meios acadêmicos, sobre o radicalismo da especialidade: “o especialista é aquele que sabe cada vez menos sobre tudo e cada vez mais sobre nada”. De modo que a integração do conhecimento vem de pensadores antigos e também dos filósofos modernos, como Jean Jacques Rousseau, Comenius e Dewey, e, em nossa terra, pensantes da educação, como Pedro Anísio, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Luís Gonzaga Fernandes, Durmeval Trigueiro, Paulo Freire e, para os lados do sul, Alceu de Amoroso Lima, Dermeval Saviani e Padre HenriqueVaz.
          A teoria da interdisciplinaridade é a resposta a tudo isso. A “reforma”, simplesmente, ocorreria, se os professores combinassem o dia a dia do ensino; cada disciplina estivesse a necessitar uma da outra explicitamente nos programas; os docentes seguissem esses programas; os professores não avançassem a unidade programática além da unidade da disciplina afim. Nenhuma novidade. A interdisciplinaridade evita a dispersão na pluridisciplinaridade e na transdisciplinaridade. Ela é a interação existente entre duas ou mais disciplinas, praticada da simples comunicação de ideias e comparações até a integração mútua de conceitos e métodos, que se relacionam no estudo, na pesquisa, e, sobremaneira, no ensino e na aprendizagem das disciplinas separadas que, por sua vez, se reintegram e retornam ao conteúdo como um todo, o “logos”.
          Sobre o assunto, ainda correrão muitas notícias, mas, antes, tudo dependerá da mentalidade dos que conduzem a escola fundamental, média ou superior; da formação dos docentes para que ensinem ao aluno ser capaz, ao final do curso, de identificar e explicar a relação entre Matemática, Física, Química e a Linguagem. Mediocridade é reformar por reformar sem considerar a educação, suas teorias e história. Deste modo, o ensino médio continuará sendo apenas médio ensino.

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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 02/06/2010
Alterado em 20/06/2010


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