Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


MARADONA E SUAS MEDALHAS

Depois de ver, compreender. Sempre vi Maradona como um inteligente atleta. Desde cedo, teve um trato especial com a bola, seu pequeno pé dando a direção que sempre quis à pelota, como dizem os portugueses. E assim aconteceu seu crescimento, em razão do seu empenho e destreza. Porém, tempos depois, no coração boêmio de Buenos Aires, Caminito, indaguei a uma criança que jogava bola, sobre o então ídolo Diego Maradona. Com desprezo, citando outros de sua admiração, foi taxativo: “es un drogadicto”. E Maradona, refugiando-se em Cuba, livrou-se da poeira a que se viciou nos cais de Napoli, “deu a volta por cima”, ensinando o que é possível aos que caem no infortúnio da droga, tornando-se, para 2010, técnico da “alviceleste” seleção “rio-platense”.

Tendo dado a volta por cima, reapareceu altivo, mas com demasiada empáfia, estufou-se todo com o que sua arte esportiva tinha lhe assegurado. Passou a referir-se a grandes jogadores, como é o caso de Pelé ou Müller, com desdém. Os alemães, nesta Copa, deram-lhe merecida resposta: humildade e respeito são deveres também nas competições esportivas. Triste fiquei com o Brasil, que demonstrou ser superior no primeiro tempo; fez um belo gol anulado e outro valendo e, se tivesse repetido a determinação e equilíbrio psicológico iniciais, teríamos vencido a Holanda. Com pena fiquei da Argentina, bastavam dois gols para se evitar esta exageração: alemães, quatro; argentinos, nenhum. De repente, frustradas as então esperadas demonstrações de craques, como Messi, prometidas por Maradona. Nas arquibancadas, legíveis insultos ostentados pelos “hermanos”: “A los brasileños, la VARIG”. E alí, pouco depois, quase no mesmo voo, viajariam “los porteños”...

Tudo isso parece trivial. Mas, no fundo, reflete uma preocupante realidade: crianças, jovens buscam nesses jogadores de futebol a figura de ídolo, de herói. Se, na educação de todos os povos, heróis sempre foram mulheres e homens protótipos, esses jogadores, com poucas exceções, não servem como exemplo. Talvez como lição de habilidades esportivas, mas não de ética e cidadania, pois transmitem a educação que receberam. No campo, exibem: violência; ações irresponsáveis como as das expulsões; deslealdades com o adversário; desonestidades, como os gols de mão. Deles todos, somente Maradona ousou atribuir a Deus seu gol ilícito: “- Fue la mano de Dios”. Nesse mundo sem valores, escasseiam-se os heróis. Nos dias de hoje, herói é aquele que, para si, para a sociedade e a educação da juventude, consegue haver sã cidadania e conduta ética. Estes, os meus ídolos.
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 09/07/2010
Alterado em 09/07/2010


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