Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Dom Pelé chuta com os dois pés
       

 
       Conhecido por Dom Pelé, o Arcebispo Emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires nunca sentou no banco de reservas do time da Igreja. Chegou , em março de 1966, da Diocese de Araçuaí, interior das Minas Gerais, com jeito de matuto, fazendo o belo gesto na entrada da cidade, diante dos moradores de Oitizeiro, o que foi, anos depois, imitado pelo Papa João Paulo II, ao viajar a outros países em visitas apostólicas. Dom José beijou o solo da terra que o recebia e disse: “Faço como o Profeta, retiro as sandálias, batendo o pó de outros caminhos, e beijo esta terra santa antes de pisá-la. Sagrada é esta terra pelas crianças, mulheres e homens paraibanos. A Paraíba é santa porque é exemplo ao país de sagrada cidadania”.  Nem todos os bispos se dedicavam aos menos favorecidos como Dom Pelé, contudo, quanto à pastoral, seus pés esquerdo e direito o mantinham em equilíbrio. Aqui permaneceu até dezembro de 1995.
       Sempre se identificou como um intelectual simples. Nessa simplicidade, a convite de amigos, retorna para festejar, de 19 a 25 de dezembro, seus setenta anos de sacerdócio. No dia 19, a partir das quinze horas, inaugurará o Memorial Padre Comblin, em Santa Fé, em Arara, onde moraram e estão sepultados seu amigo Comblin e o Padre Ibiapina.  Em João Pessoa, haverá duas comemorações marcantes: no próximo dia 20, às nove horas, Dom José concelebrará, com o Arcebispo Dom Aldo, Missa de Ação de Graças na Catedral Basílica de N. S. das Neves; e, no dia 25, às nove horas, Missa do Natal, no Santuário da Praia da Penha.
       São setenta anos da vida de pastor dedicados às suas ovelhas que não lhe pertencem, mas, ao rebanho de Deus. Sua voz profética nunca abandonou ovelhas no vale das injustiças; desinteressado, diferente dos mercenários, não estava junto a elas para retirar-lhes a lã, o leite ou a carne, mas para protegê-las com coragem, quando os lobos as ameaçavam vestidos de “poderosos”. Por isso, suas ovelhas o amam, reconhecendo sua voz, que, pelas palavras da Boa Nova, sempre anuncia amor e justiça.  Dom José Maria Pires assim doou esses setenta anos de serviço ao povo de Deus e sempre será lembrado por estes prados, sobretudo por procurar caminhos à relva para as ovelhas famintas de justiça. Como bom pastor, suas ovelhas o conhecem e, alegres e reconfortadas, festejarão sua longevidade.
Se assim é o pastor, como promete o Salmo 23, “nada lhe haverá de faltar”.

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 15/12/2011


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