Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Sonhos e Memórias
 
          O menino Manuel, levado pelo pai João ao Seminário Arquidiocesano da Paraíba, admirou, em várias oportunidades naquele internato, os azulejos da Igreja São Francisco que lhe retrataram cenas de José como decifrador dos sonhos dos oficiais do Egito e do faraó. Certamente, desde cedo, impressionou-se com a riqueza do que fosse o sonho enquanto preanunciação do que iria acontecer, revendo José interpretar nas sete vacas gordas, a abundância e, nas sete de vacas magras, a escassez... Essa intensa imagem do autor acompanhou até a sua vida madura para vir a escrever o Sonho Medieval como introdução da sua obra, recorrendo ao sonho, não como objeto de um prenúncio, mas como um tesouro ora da inconsciência, ora da consciência de uma realidade vivida, recebendo, “num velho cenóbio”, memórias da sua infância até a vocacionada vida de levita.

          O livro de Manuel Batista é escrito de afirmações concisas e fortes a partir da primeira sentença: “Eu nasci semimorto”. Tido como morto, quase sozinho reagiu fortemente às portas da morte; choramingou, com a pouca força da respiração, como se fosse um grito ressuscitador, ouvido pela parteira Mãe Chiquinha que já dava as costas ao morituro para se dedicar exclusivamente à sua mãe Dona Cota. Essa pujança de nascença rendeu a Batista vigor e entusiasmo empreendedor, o que conserva até os dias de hoje. Assim, Manuel Batista de Medeiros faz parte da história do pioneirismo no ensino superior da rede privada, no Paraíba. Em 1972, inicia o ensino superior, em instituição particular (Universidade Autônoma) que se somou a outras instituições para fazer da Paraíba uma imensa universidade.


          O livro, “Scriptura Apócripha da Vida do Levita”, ilustrado por Flávio Tavares e apresentado por Jackson Carvalho, às dezoito horas desse oito de março, na Academia Paraibana de Letras, relata decisões, caminhos, obras, feitos e fatos inéditos de Batista, dos quais se ressalta a ideia de criar o consagrado UNIPÊ. Enfim, o confrade da APL enriquece esses escritos com descrição minuciosa da sua vida e de fatos pitorescos da cultura interiorana, propiciando-nos uma leitura agradável. Duas virtudes de Batista, seguindo a valorização de Georg Simmel, destacam-se do bico da sua pena: fidelidade às ideias, às pessoas e aos fatos e gratidão àqueles que o ajudaram na realização dessas ideias e a carregar seu alforje, desde a descida das serras de Serraria até os caminhos litorâneos da sua vida.

 
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 02/03/2013


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