Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Matarão Doutora Cynthya

          Não há maior mal do que tirar a vida de alguém, sempre o menor é para o assassino cuja vida, desde suas origens, nunca foi valorizada pela família ou pela sociedade...  De qualquer forma, morrer sempre será o nosso maior medo. Tememos ainda que essa perda seja precedida de muita dor e de muito sofrimento. A sabedoria popular fala que, diante do inevitável, é “preferível morrer como passarinho”, sem dor, sem aviso, de repente, caindo, logo depois de algum voo, a pousar para sempre...

          Mataram Cynthia em pleno voo, ao se dedicar aos outros, na prática do trabalho honesto, circunstância em que lhe atribuíram o injustificável: ser queimada viva porque não tinha, momentaneamente, mais de trinta dinheiros na sua conta bancária. Visto o saldo, o grupo assassino irado se inspirou naquilo que havia no Posto: álcool ou gasolina. Considerou a vida de Cynthya sem algum valor, como se fosse a sua, para atear-lhe o fogo com requinte, cálculo, frieza ou apuro de maldade. Tudo com deliberada participação de menor. Logo se reacendeu a campanha de que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deve ser imediatamente revisto para incriminar menores de idade, participantes de tais delitos. Imaginei que, refeito o Estatuto, calar-se-ão os que clamam pela elevação da maioridade penal para 16 anos; jovens serão presos; menores irão às barras dos tribunais; e seus crimes continuarão talvez com idêntica ou maior características de fereza.

          Observe-se que o imediatismo se caracteriza por uma generalizada tendência de combater o efeito ou os efeitos sem acabar com a causa ou as causas desses efeitos; ou seja: combater a febre sem acabar com a inflamação que continuará causando outros males e até a própria febre convulsiva. Nada mais lógico do que o princípio, ensinado pela Filosofia, desde Aristóteles: “Sublata causa, tollitur effectus”, que significa: “Suprimida a causa, elimina-se o efeito”. O inverso não se dá, que seria: suprimido o efeito, elimina-se a causa... Essa relação de causa e efeito é indispensável à metodologia do tratamento das nossas mazelas ou doenças sociais. Se a dor de cabeça é causada pelos óculos, pouco resolve tomar apenas comprimidos analgésicos,  pois a analgesia logo passará e a dor voltará. Também, nesse caso, não adiantam cuidados gástricos... As doenças sociais são mais complicadas do que as do nosso corpo, exigem remédios adequados e definitivos, porém, muitas vezes, enganamo-nos com soluções paliativas.

 

Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 04/05/2013


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