Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Essas crianças, nossos netos
 

          Não estranhei o cearense de Sobral, Francisco Pierre, dizer que “menino é brinquedo de adulto”. Se enquanto adultos, não tratamos os meninos como boneco, quando crianças, tratávamos os bonecos como menino, dando-lhes vida, costumes da casa, repetindo a bonecos e bonecas os carões que nossos pais nos passavam. O pai ria, a mãe sorria, e os avós se enchiam de alegria, relendo naquilo que o passado ensinado aos filhos estava sendo retransmitido aos netos.  Esse contentamento dos avós corrobora o saber popular: aos pais as responsabilidades, o choro nas madrugadas, desobediências, o tumulto em casa, também a candura e a doçura filiais; mas, aos avós somente a doçura e a satisfação dos netos, como convivo com Rebeca, Thaís, Nicole, Maria Vitória, João Vitor, Sofia e Lucas.
 
          As crianças são prejudicadas pelos problemas dos adultos no relacionamento com os amigos, com o sogro, com a sogra ou com o cônjuge; no emprego, no condomínio, no dia a dia das prestações e, sobretudo, no frisson do mercado de trabalho com suas ansiedades. Quanto aos avós, geralmente aposentados, muito lhes preocupa apenas conservar o poder aquisitivo que sustente a casa e atenda aos pedidos dos netos. “Aí é onde a porca torce o rabo”, quando governantes desrespeitam os que passaram a vida trabalhando e subtraem suas merecidas aposentadorias. Sei que o entusiasmo anda diminuindo, mas ainda é tempo: Aposentados! Uni-vos! A longevidade vos promete aos netos...

           Somos prometidos ao ponto de permitir que os netos façam sumir os nossos lápis, rasguem nossas revistas, risquem as paredes, durmam sem lavar as mãos, rejeitem a sopa imposta pelo pai ou recusem a refeição em troca de chocolate, retirem da mangueira a fruta verde e até perigosamente dirijam o carro no colo dos avós. Assim, a mãe, já cansada de corrigir os “malfeitos”, desabafa: “Eu educo e vocês deseducam!” Calma!  Entre a intransigência dos pais e a frouxidão dos avós, acontece um terceiro momento: o equilíbrio que educa melhor. Quem não correu do chinelo da mãe ou do cinturão do pai para se proteger nos braços da avó? Foi assim, no equilíbrio dessas ações, que se aprendeu a educar sem bater em criança. Aliás, educar é fazer com que, sem brutalidade, a criança aprenda, aprendendo também o prazer de aprender...

 
 
 
 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 05/10/2013


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