Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Dinheiros em saco
         
          Semanalmente, a cada sexta-feira, Inácio de Moça saía a cavalo, das suas terras à margem do Rio Paraíba, lá dos lados de Maracaípe. Saía depois que o sol saísse, nem antes nem depois. Quando era precisamente oito horas da manhã, já tinha chegado no centro de Itabaiana e amarrado seu cavalo Escuro na frente no Banco do Brasil. Apeava, mas  não soltava dois sacos brancos: um, cheio de dinheiro, que tinha ganhado com suor e trabalho, respeitável  lucro das suas plantações ou da venda de algum bicho; no outro,  farinha de mandioca e jabá para almoçar, antes de retomar a caminho de volta à casa. Depois do Banco do Brasil e da Cooperativa de Seu Almeida, a cidade não oferecia outra casa creditícia ou onde fazer depósito de dinheiro.
          Naquele tempo, com menos violência, Inácio de Moça não desconfiava  do perigo que corria, sozinho,  cavalgando nas areias do rio, deixando rastro para ladrão... Certo dia, recebeu uma paulada com uma barra de bonome na nuca; caiu semimorto;  levaram seu cavalo, todo seu dinheiro , também a charque, deixando-lhe apenas a farinha com manchas de sangue. Por muitos meses, recuperou-se com pomadas e unguentos , em casa, pedindo a mulher que, à noite, evitando lua cheia, em plena escuridão,  escondesse  o  seu ganho numa jarra enterrada no quintal. Assim, levantou-se da cama e, logo depois, já caminhava  com dificuldades, arrastando  os pés, sem poder montar cavalo,  chegando à cidade somente depois do meio dia. Dois anos depois , morreria ainda vítima desse primeiro e único assalto.
         Hoje,  tudo é diferente:  Os dinheiros carregados em sacos são trocados imediatamente  por bens e negócios ou  levados  para países distantes...  Inácio de Moça perguntaria: Com  tantos  bancos aqui pertinho, por que depositar dinheiro na Suíça e "em segredo" ? 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 07/11/2015
Alterado em 07/11/2015


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