Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


                                   
 Ronaldo Nunes Mendonça
 
           O amigo Ronaldo, que se dizia meu primo por causa dos Nunes de "seu" Nen, casado com minha tia Zefinha, e assíduo leitor das minhas crônicas, depois de fazer o check-in , inesperadamente, numa súbita decisão que nem ele sabia, caiu no chão do aeroporto, em São Paulo, para partir num voo de infinitas alturas, alarmando os que não puderam acompanhá-lo. Morreu com saúde, não sofreu para morrer, saiu para a morte que tanto evitou nos outros, cuidando do nosso bem estar, sempre com voz mansa, com ininterrupto e largo sorriso.
           Alegria que se alargava, ao desfrutar, à mesa com os amigos, um bom vinho ou agregando-os numa mesma estrada. Após tantos congraçamentos, não se desligava das amizades, numa convivência agradável e disputada. Segundo os que o cercavam, como Manuel Jaime e Ricardo Maia, era  Ronaldo uma pessoa de  muita coerência com a vida ou numa vida de muita coerência, a serviço de quem dele necessitasse; exaltava a beleza da vida, tudo fazendo para que todos vivessem. Mas, enfim, a viagem e o caminho têm um sentido...
          De repente, ele, que tratava nossos pés indispostos ao caminho, teve seu coração em arritmia, porém, não parando de amar, apenas acelerando-se para voar. Penso que as almas bondosas são leves, desprovidas de matéria, voam como a energia etérea, atravessam galáxias, sendo mais rápidas do que naves alienígenas, velozes como o pensamento. Ronaldo, hoje, é alma e pensamento. Recorro aos versos da Ópera Nabuco, de Verdi, o desejo dos escravos aprisionados, rogando ao pensamento que se liberte voando alto, além dos montes. E assim falo a Ronaldo que, agora pensamento, vá além dos mares e dos céus: "Vá, pensamento, sobre as asas douradas,/ Vá e pousa sobre as encostas e as colinas,/ Onde os ares são tépidos e macios,/ Com a doce fragrância do solo natal (...)/ Oh! Minha pátria tão bela e perdida,/ Oh! Lembrança tão cara e fatal,/ Harpa dourada de desígnios fatídicos,/ Por que, você, a ausência da terra querida?/ Reacende a memória no nosso peito,/ Fale-nos do tempo que passou!(...) / Para suportar o nosso sofrimento."

 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 28/07/2017
Alterado em 30/07/2017


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