Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

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                             Coriolano e seus felizes momentos

     
Reputo que, em 14 de setembro de 1941, ter fundado a Academia Paraibana de Letras - APL foi o maior feito de Coriolano de Medeiros, ao que hesitou, mesmo constantemente encorajado e apoiado pelo Cônego Mathias Freire que, desde o começo, desejou entregar, de mão beijada, a Coriolano a honrosa Presidência dessa renomada instituição paraibana, o que dizem ser a APL. Não só ela, mas também são assim consideradas as academias de letras, a partir da primeiríssima em Atenas, na Grécia; depois, cito a de Paris, dando um salto cronológico, em virtude de ser tomada como modelo protótipo ou estrutura à Academia Brasileira de Letras, adotada como mãe das academias estaduais do nosso país. Também com tal prestígio, foi seu primeiro presidente e fundador, Machado de Assis, mesmo sendo o singular mais destacado escritor brasileiro, de inigualáveis obras, tal virtude de escritor não ofusca a honra de ter sido ele o primeiro presidente da ABL. Nesse sentido, Coriolano também foi sócio fundador do egrégio Instituto Histórico e Geographico Parahybano - IHGP; sócio correspondente do Instituto Historico e Geographico de Sergipe, do Instituto Historico e Geographico de São Paulo e do Centro de Sciencias Lettras e Artes  de Campinas, cuja denominação influenciou para que a APL se destinasse , como consta nos seus estatutos, a abrigar também ciências e artes, contudo só chamada de Academia Paraibana de Letras.
      As fotografias de Coriolano, jamais rindo ou sorrindo, convenceram-me de se tratar de um homem melancólico; e, ao abrir Coriolano de Medeiros - notícia biobibliográfica, de Eduardo Martins, deparo-me com um pensamento lamuriante de Coriolano, que denota tristeza existencial: “Do mundo tenho impressões que pungem; dele só levo desilusões amargas”. Lia e relia Augusto dos Anjos, talvez foi por isso que colocou esse famoso vate paraibano para iniciar a Galeria dos Patronos da APL, como patrono da Cadeira 1. Foi sempre assim sorumbático que Wills Leal o via no terraço da sua casa, vestindo pijama, muito aposentado, todas as tardes, na sua modesta casa, número 232 da Rua do Sertão, no bairro Cordão Encarnado. Wills pensou, várias vezes, começar uma conversação, mas aquela figura séria, indisposta, desalinhada, com um severo bigode, encobrindo-lhe os lábios, inibia seu futuro confrade Wills a balbuciar qualquer cumprimento; mesmo consciente de que estava perdendo a oportunidade de receber sábias palavras de Coriolano que, quase cego, nem percebia os transeuntes que passavam pela sua rua, com olhar fixo, no horizonte, para o Pôr do Sol, cujos raios vinham lá do Rio Sahauá. E lá se ia Wills Leal, falando sozinho, lamentando a circunstância perdida. Circunstância é assim: ganha-se ou perde-se, quando sentimos que tal ocasião é oportuna ou desfavorável, ou quando nem percebemos o que está acontecendo.
      Há quem compare as boas circunstâncias a cavalos selados que passam e se vão; quem montou montou, quem não montou não monta mais... Coriolano não vivia procurando “cavalos selados”; vivia das suas próprias qualidades e essas eram tantas que o ajudavam a subir  em “cavalos preciosos”, como é o caso da presidência da APL e da direção da Escola Técnica Federal, onde e quando exerceu excelente e marcante gestão. Tinha fisionomia de professor, foi até também integrante da Universidade Popular, criada pelo então Governador Castro Pinto, hoje Patrono da Cadeira 33, ora ocupada por mim na APL. Dentre duas dezenas de elogiáveis publicações, destaco o Dicionário Chorographico do Estado da Parahyba, todas de João Rodrigues Coriolano de Medeiros que, nascido em 30/11/1875 em Patos, morreu em 25/04/1974, onde sempre morou na Capital, sem nos revelar seus momentos de felicidade. Mas, a vida não precisa ser feliz para ter tido brilhante e notável existência...
         
 

 
Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 11/07/2019
Alterado em 20/07/2019


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