Damião Ramos Cavalcanti

Enquanto poeta morrer, a poesia haverá de viver

Textos


Tráfego dos eleitos, eleitores e leitores
 

          Quando éramos pequenos, víamos tudo na cidade como pequenos; a sociedade da infância era bem menor do que a de hoje. Mas também, naquele tempo, a cidade grande parecia pequena pelos fatores provincianos do cochicho, do fuxico, do moralismo que substituíam os celulares, a mídia e a internet de hoje na globalizada fofoca interurbana. Os meios de transporte, a mídia e a chamada “rede social” juntaram cidades pequenas às cidades metrópoles, como se fossem todas uma só. Contudo, veem-se muitas coisas, nas grandes cidades, que parecem miúdas como, por exemplo, carros oficiais indevidamente nas portas dos shoppings, dos colégios e das faculdades a serviço da “autoridade” pai, ensinando ao filho, ao motorista e a quem os vê como se corrompe o uso do bem público, tornando-o objeto de usufruto individual. Praticando tais abusos, há políticos em Brasília que exorbitam, usando até aviões em viagens particulares...

          Segundo o eletricista Zé Pedro, dificultam a distinção dos carros oficiais: “Quase não existe mais carro chapa branca ou com adesivos; alugam na locadora igual ao turista. Só se distingue carro “oficial” quando ele tem motorista ou leva autoridade dentro dele...” Além do uso indevido do veículo, temos visto esses carros desobedecendo às leis de trânsito, estacionados nos estacionamentos especiais para idosos, portadores de deficiência e mulheres grávidas; parados em fila dupla, com faroletes piscando, obstaculizando a passagem nas ruas estreitas ou exatamente em cima das faixas para pedestres ou das calçadas, em demonstração de prepotência, da concepção de que lei é feita para punir e não para se cumprir. Como com tal concepção não se punem essas “autoridades”, consequentemente elas se acham isentas do dever, andando na contramão e retirando veículo do serviço público para seus próprios serviços.

          Mas, ainda há políticos conscientes de que eles são servidores públicos para visar o bem comum e discernir, do joio, a cidadania e a conduta correta. O saudoso educador e antropólogo Darcy Ribeiro, quando eleito Senador da República, disse que, em seu mandato, aprovaria uma Lei de Trânsito para restituir a rua e a calçada ao povo, por onde poderíamos andar, passear. Depois disso, contra os idólatras do carro, somente o povo permitiria coisas, como carros, motos, caminhões e caçambas, ocuparem as ruas, as estradas, obedecendo à sua Lei de Trânsito, respeitando a pessoa do pedestre. Assim seria o tráfego dos eleitos e dos eleitores...     

 
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Damião Ramos Cavalcanti
Enviado por Damião Ramos Cavalcanti em 18/01/2014
Alterado em 19/01/2014


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